terça-feira, 17 de março de 2015

Colonização açoriana em Santa Catarina

Colonização açoriana em Santa Catarina



A colonização açoriana visou dois objetivos distintos: de um lado, resolver o problema de parte da população das ilhas, que formava uma verdadeira massa de miseráveis, desprovida de terras para cultivo e sem emprego, a ilha dos açores estava lotada de gente e os moradores de lá pediram ajuda do governo português, de outro lado, atender às necessidades políticas do Reino, de ocupação das terras do Sul do Brasil, disputadas com a Espanha. Este segundo objetivo parece ter sido o mais importante: enquanto realizava sua obra na Ilha, construindo fortes e criando a estrutura da Capitania, Silva Paes chamava a atenção das autoridades portuguesas, insistentemente, para a necessidade do seu povoamento, sem o qual não adiantaria a fortificação
Entretanto, o outro também foi significativo – cabe destacar que muitos dos futuros colonos foram embarcados compulsoriamente, principalmente aqueles que se constituíram no “peso morto” das ilhas -velhos, doentes, inválidos. Em 1746 foi feita uma lista de pessoas que queriam vir pro Brasil. Em 06 de janeiro de 1748, desembarcaram na Ilha de Santa Catarina 461 pessoas vindas do Arquipélago dos Açores. Foram os primeiros dos cerca de 6.000 açorianos e madeirenses que emigraram para o Desterro(atual Florianópolis), entre esta data e 1756. Foram também pra Laguna e São Francisco. O governo português prometeu que a cada “casal” fosse distribuído um lote de um quarto de légua (1650 metros) em quadro, duas vacas e uma égua, além de sementes e ferramentas.

Coube ao Governador da Capitania, Manuel Escudeiro Ferreira de Souza, a tarefa de distribuir os novos povoadores pela Ilha e pelo continente fronteiro. Escudeiro fez doações de terras em pontos já conhecidos e onde já havia alguns moradores, bem como povoações novas. Pediram ao governo português ajuda, o governo pensou e lembro que o sul do Brasil não estava se desenvolvendo muito bem, resolveu  que iria mandar açorianos e madeirenses pro Brasil. Eles teriam como missão avançar para o interior das capitanias, com o propósito de criar novos povoados e fazer a colonização crescer. Acabou que os Açorianos e Madeirenses chegaram aqui, receberam as terrar que lhe foram prometidas e tiveram que se virar, porque nada mais receberam do governo português
(Ilha de SC, 1776)
Na ilha, os colonos foram encaminhados para Trindade, Ribeirão, Lagoa, Ratones, Santo Antonio, Canasvieiras, Rio Vermelho e Rio Tavares. A adaptação dos açorianos foi lenta e difícil. Sua tradicional cultura do trigo não se adequou ao clima da região, além do que as características físico-químicas do solo ilhéu, de baixos teores de fósforo, potássio e matéria orgânica, se traduzem em baixa fertilidade, não propiciando as culturas anuais. Poucos também receberam as vacas e éguas prometidas. Além disso, os braços mais fortes eram chamados ao treinamento militar – em 1754 existiam 18 “companhias de paisanos”, somando 1300 homens. Como resultado de tudo isto, as terras eram abandonadas e o trabalho agrícola substituído por ofícios urbanos diversos e pela pesca. Os que ficaram na terra acabaram por ter no cultivo da mandioca, desconhecida nos Açores, a atividade básica, e no preparo da farinha, a principal fonte de renda
A imigração açoriana coincide com o desenvolvimento das armações de baleia. Com isso, boa parte dos “colonos” acabaram se empregando na atividade pesqueira e na construção naval. Formando a grande maioria da população da Ilha, os açorianos participaram de modo decisivo na elaboração da cultura local. As técnicas de pesca, o carro-de-boi, a olaria de cerâmica utilitária e decorativa, a renda-de-bilro, o “boi-na-vara” e a “farra-do-boi”, as festividades do Divino, o “pão-por-Deus”, os fandangos, etc., são herança dos filhos do Arquipélago, que ainda nos legaram uma literatura oral e uma mitologia riquíssimas, forneceram o substrato linguístico local e desenvolveram aqui o engenho de farinha, a partir da combinação do moinho de vento com a atafona