Colonização
açoriana em Santa Catarina
A
colonização açoriana visou dois objetivos distintos: de um lado, resolver o
problema de parte da população das ilhas, que formava uma verdadeira massa de
miseráveis, desprovida de terras para cultivo e sem emprego, a ilha dos açores
estava lotada de gente e os moradores de lá pediram ajuda do governo português,
de outro lado, atender às necessidades políticas do Reino, de ocupação das
terras do Sul do Brasil, disputadas com a Espanha. Este segundo objetivo parece
ter sido o mais importante: enquanto realizava sua obra na Ilha, construindo
fortes e criando a estrutura da Capitania, Silva Paes chamava a atenção das
autoridades portuguesas, insistentemente, para a necessidade do seu povoamento,
sem o qual não adiantaria a fortificação
Entretanto, o outro também foi significativo –
cabe destacar que muitos dos futuros colonos foram embarcados compulsoriamente,
principalmente aqueles que se constituíram no “peso morto” das ilhas -velhos,
doentes, inválidos. Em 1746 foi feita uma lista de pessoas que queriam vir pro
Brasil. Em 06 de janeiro de 1748, desembarcaram na Ilha de Santa Catarina 461
pessoas vindas do Arquipélago dos Açores. Foram os primeiros dos cerca de 6.000
açorianos e madeirenses que emigraram para o Desterro(atual Florianópolis),
entre esta data e 1756. Foram também pra Laguna e São Francisco. O governo
português prometeu que a cada “casal” fosse distribuído um lote de um quarto de
légua (1650 metros) em quadro, duas vacas e uma égua, além de sementes e
ferramentas.
Coube ao Governador da Capitania, Manuel
Escudeiro Ferreira de Souza, a tarefa de distribuir os novos povoadores pela
Ilha e pelo continente fronteiro. Escudeiro fez doações de terras em pontos já
conhecidos e onde já havia alguns moradores, bem como povoações novas. Pediram
ao governo português ajuda, o governo pensou e lembro que o sul do Brasil não
estava se desenvolvendo muito bem, resolveu
que iria mandar açorianos e madeirenses pro Brasil. Eles teriam como
missão avançar para o interior das capitanias, com o propósito de criar novos
povoados e fazer a colonização crescer. Acabou que os Açorianos e Madeirenses
chegaram aqui, receberam as terrar que lhe foram prometidas e tiveram que se
virar, porque nada mais receberam do governo português
(Ilha de SC, 1776)
Na
ilha, os colonos foram encaminhados para Trindade, Ribeirão, Lagoa, Ratones,
Santo Antonio, Canasvieiras, Rio Vermelho e Rio Tavares. A adaptação dos
açorianos foi lenta e difícil. Sua tradicional cultura do trigo não se adequou
ao clima da região, além do que as características físico-químicas do solo
ilhéu, de baixos teores de fósforo, potássio e matéria orgânica, se traduzem em
baixa fertilidade, não propiciando as culturas anuais. Poucos também receberam
as vacas e éguas prometidas. Além disso, os braços mais fortes eram chamados ao
treinamento militar – em 1754 existiam 18 “companhias de paisanos”, somando
1300 homens. Como resultado de tudo isto, as terras eram abandonadas e o
trabalho agrícola substituído por ofícios urbanos diversos e pela pesca. Os que
ficaram na terra acabaram por ter no cultivo da mandioca, desconhecida nos
Açores, a atividade básica, e no preparo da farinha, a principal fonte de renda
A
imigração açoriana coincide com o desenvolvimento das armações de baleia. Com
isso, boa parte dos “colonos” acabaram se empregando na atividade pesqueira e
na construção naval. Formando a grande maioria da população da Ilha, os
açorianos participaram de modo decisivo na elaboração da cultura local. As
técnicas de pesca, o carro-de-boi, a olaria de cerâmica utilitária e
decorativa, a renda-de-bilro, o “boi-na-vara” e a “farra-do-boi”, as
festividades do Divino, o “pão-por-Deus”, os fandangos, etc., são herança dos
filhos do Arquipélago, que ainda nos legaram uma literatura oral e uma
mitologia riquíssimas, forneceram o substrato linguístico local e desenvolveram
aqui o engenho de farinha, a partir da combinação do moinho de vento com a
atafona